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O incrível potencial de aprendizado do cérebro adolescente

O CÉREBRO ADOLESCENTE

Tornou-se um clichê cultural dizer que a adolescência é a fase mais complicada para os pais tomarem conta dos filhos. É comum brincarmos que quando as crianças estão na adolescência, elas são mal-humoradas, não se comunicam apropriadamente e estão mais interessadas em seus telefones do que em seus pais. Mas esse ponto negativo sobre adolescentes faz com que se perca a oportunidade incrível de transformar positivamente seus cérebros e suas vidas durante este período de desenvolvimento.

“[A adolescência é] uma fase da vida em que podemos realmente prosperar, mas precisamos aproveitar a oportunidade”, disse o neurocientista da Universidade de Temple Laurence Steinberg na Conferência “Learning and the Brain”, em Boston. Steinberg tem passado sua carreira estudando como o cérebro adolescente se desenvolve e acredita que há uma desconexão fundamental entre a visão popular que se têm dos adolescentes e o que realmente está acontecendo em seus cérebros.

Devido ao cérebro adolescente ainda estar em desenvolvimento, sua plasticidade é incrível. É parecido com os primeiros cinco anos de vida, quando o cérebro da criança está crescendo e desenvolvendo novos caminhos e conexões de acordo com as novas experiências. De certa forma, cérebros adultos também são plásticos  – caso contrário, eles não seriam capazes de aprender coisas novas – mas “a plasticidade do cérebro na idade adulta envolve pequenas alterações nos circuitos existentes, e não o desenvolvimento ou eliminação massivo de novas conexões”, disse Steinberg.

A adolescência é a última vez na vida de uma pessoa que o cérebro pode ser tão drasticamente reformulado.

“O cérebro adolescente é extremamente sensível à experiência”, disse Steinberg. “É como um dispositivo de gravação que está ligado a um nível diferente de sensibilidade.” É por isso que os seres humanos tendem a se lembrar muito melhor até mesmo dos eventos mais mundanos da adolescência do que de eventos importantes que aconteceram em uma época posterior da vida. Isso significa também que a adolescência pode ser uma janela extremamente importante para fixar certos aprendizados. Steinberg observa que esta janela está se alongando, com o início da puberdade acontecendo mais cedo e jovens assumindo papéis adultos mais tarde na vida. Entre esses dois fatores, um biológico e um social, pesquisadores agora dizem que o período da adolescência dura 15 anos, dos 10 aos 25 anos.

“Quando a adolescência é tão longa assim, não podemos encarar isso como uma fase para sobrevivermos”, disse Steinberg.

Adolescentes têm uma má reputação como tomadores de risco, porque partes de seus cérebros são mais plásticas do que os outras, criando um desequilíbrio. O córtex pré-frontal – que controla coisas como planejamento, pensamentos sobre o futuro, balanço entre risco e recompensa e raciocínio lógico – é o mais maleável durante a adolescência. Enquanto isso, os hormônios sexuais liberados na puberdade afetam o funcionamento do cérebro, adicionando mais dopamina para o sistema. Toda vez que um adolescente se sente bem sobre algo, ele recebe um jato de dopamina. É por isso que os adolescentes procuram experiências agradáveis, apesar dos riscos.

“Nada será tão bom para o resto de sua vida se comparado às suas sensações de quando você era um adolescente”, disse Steinberg. O desequilíbrio entre um sistema de dopamina excitado e um córtex pré-frontal ainda em desenvolvimento, que inibiria alguns dos comportamentos arriscados de busca por prazer, é o que faz a adolescência ser um momento tão perigoso. Enquanto adolescentes são extremamente saudáveis, as taxas de mortalidade aumentam de 200 a 300% devido à comportamentos de risco. Os cientistas também mostraram que o sistema de recompensa é ativado quando um adolescente está com um grupo de colegas, razão pela qual as crianças assumem riscos muito maiores quando estão com os amigos do que quando estão sozinhas.

O desequilíbrio entre o sistema de dopamina ativo e o sistema de auto regulação soa como uma história assustadora, mas também representa uma oportunidade única para alcançar adolescentes com estímulos positivos. Infelizmente, as escolas em geral não estão aproveitando esta oportunidade.

“Os nossos alunos do ensino médio estão entre os piores do mundo desenvolvido”, disse Steinberg. A matemática e a leitura do ensino médio, de acordo com a Avaliação Nacional do Progresso Educacional (NAEP), não têm avanços significativos há 40 anos. Em contraste, os estudantes do ensino primário e do ensino fundamental têm melhorado. E as escolas norte-americanas tendem a gastar mais dinheiro em escolas de ensino médio, os professores ganham mais dinheiro, e em geral o ensino fundamental matricula mais crianças de baixa renda do que escolas de ensino médio. Steinberg afirma que os argumentos tradicionais do porque as escolas falham não explicam tudo o que está acontecendo.

“É porque nossas escolas são tão entediantes”, disse Steinberg. Ele observa que os alunos do ensino médio que estudam no exterior relatam que suas experiências foram mais interessantes e mais desafiadoras, enquanto os estudantes estrangeiros que estudam nos EUA dizem que ensino médio norte americano é mais chato.

Steinberg acredita que as escolas não desafiam os alunos e essa é uma das razões que torna o ensino tão entediante. Os próprios alunos relatam que eles podem passar de ano na escola sem fazer muito esforço. “Quando não estamos desafiando nossos alunos na escola, não só estamos impedindo o seu desenvolvimento acadêmico, mas também não estamos tirando proveito da plasticidade do córtex pré-frontal”, disse Steinberg. O córtex pré-frontal é reforçado pelo desafio e pela novidade.

“Quando queremos que eles sejam desafiados e pressionados é porque nós sabemos que podemos desenvolver o pensamento avançado, bem como a auto regulação”, disse Steinberg.

Os professores muitas vezes dizem que seus estudantes se esforçam muito para realizar trabalhos que estão em um nível acadêmico inferior ao deles e que é necessário que consigam cumprir esses trabalhos para assumir tarefas mais desafiadoras. No entanto, esse processo de recuperação dos alunos por si só já é desafiador de uma forma interessante. Estipular trabalhos que são mais desafiadores do que o nível atual dos alunos os mantém engajados. Se o trabalho é muito fácil, eles vão se sentir desengajados e ficarão frustrados.

O problema é que muitas escolas vão confundir “trabalho desafiador” com “quantidade de trabalho.” Os alunos ficam estressados e cansados pelo enorme volume de tarefas que devem ser concluídas a cada noite ou a cada semana, mas isso não é a mesma coisa do que ser desafiado pelo trabalho. Steinberg assinala que horas de trabalho repetitivo, além de não ser um desafio, ainda faz com que as crianças odeiem a escola.

“As taxas de transtornos de ansiedade entre os adolescentes estão em níveis recorde”, disse Steinberg. “Estamos criando gerações de estudantes que estão sendo levadas à loucura com o que se é pedido a eles.” Reconhecer essa armadilha não é apenas importante para maximizar a oportunidade de impactar de forma duradoura os cérebros maleáveis e em desenvolvimento dos alunos, mas também é importante porque um cérebro plástico também é vulnerável às influências erradas.

A adolescência é o momento mais provável para a doença mental se desenvolver e o abuso de substâncias é 10 vezes pior se um estudante começa a usar antes dos 15 anos. “Não é apenas o fato de estar usando drogas de forma precoce que preocupa, mas principalmente a forma como o cérebro adolescente responde ao uso.”, disse Steinberg. O sistema de dopamina no cérebro adolescente anseia por drogas, a nicotina ou o álcool são absorvidos de forma diferente do que em outros momentos da vida.

O estresse também tem um grande impacto sobre os cérebros dos adolescentes. Um estudo recente da Universidade de Berkeley mostrou que o crescimento de um adolescente durante a guerra pode tirar muitos anos de vida das pessoas. “[O stress] absorve mais anos de sua vida se você é um adolescente do que se você é uma criança ou um adulto”, disse Steinberg.

Tirando vantagem do cérebro adolescente

Compreender a neurociência e como ela pode otimizar o trabalho com os adolescentes nas salas de aula pode ajudar os professores a desenvolver lições que desafiem, envolvam e satisfaçam a busca por novidades na adolescência e propiciem um aprendizado mais profundo. Essas experiências, por sua vez, podem ser uma das mais significativas em suas vidas. Se os educadores e os pais não tomarem nota desta pesquisa, as crianças vão continuar desajustadas, buscando prazer em locais de risco e continuando em cursos fracos e despreparados.

A pesquisa mostrou que a revelação do desenvolvimento do córtex pré-frontal em adolescentes deve ajudar. Apesar de ser um pouco clichê, Steinberg apontou que as pesquisas indicam que a atenção plena nas escolas pode melhorar a auto regulação, a qualidade mais importante para levar uma vida bem-sucedida. Steinberg diz que, estatisticamente, há quatro coisas que todos têm que fazer para ter uma boa vida: terminar o ensino médio, não ter um filho até se casar, não entrar em conflito com a lei e não ser ocioso.

“Se você jogar seguindo essas regras você poderá garantir uma vida decente”, disse Steinberg. “Isso não é uma coisa moral, mas um fato estatístico.”

Auto regulação e gratificação atrasada são habilidades importantes para limpar esses quatro obstáculos. Steinberg diz basicamente que, se os educadores e os pais podem ensinar as crianças a auto regulação, eles podem reduzir a pobreza no mundo.

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Autora:

Artigo traduzido por Caio Nogueira

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