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Motricidade, neurociência e educação

Você acorda. Abre os olhos, levanta da cama, se veste e prepara seu café da manhã. Sonolento, derrama um pouco do café recém feito na mão e solta a xícara que até então estava segurando, quebrando-a em milhões de pedaços. A cena previamente apresentada pode parecer um simples relato de uma cena cotidiana, comum a milhares de pessoas por aí. Mas o que está por trás de todos esses movimentos? Motricidade.

Definida como “conjunto de funções nervosas e musculares que permite os movimentos voluntários ou automáticos do corpo”, a motricidade pode ser compreendida como a sucessão de posturas e movimentos divididos em três categorias: movimentos reflexos, movimentos rítmicos e movimentos voluntários. Em uma escala de complexidade os movimentos reflexos seriam os mais simples, e os voluntários, mais complexos. Por esta razão, os movimentos reflexos são organizados pela medula espinal e movimentos voluntários necessitam da participação de outros níveis hierárquicos do sistema motor.

O movimento reflexo é uma resposta a um estímulo estereotipado na mesma intensidade deste, mas que não pode ser aprendida, modificada ou aprimorada pelo aprendizado. É o que acontece ao furarmos o dedo com uma agulha, por exemplo, seu toque estimula o neurônio sensitivo, que leva o impulso até a medula. Na medula, um neurônio associativo manda uma resposta ao músculo através do neurônio motor. Todo esse processo, é inconsciente e só se torna consciente depois que já aconteceu. O contexto, no entanto, pode nos ajudar a ‘contornar’ a reação automática do reflexo em um dado momento, levando-nos a identificar se estamos diante de uma real situação de perigo ou se nosso comportamento pode garantir nossa segurança perante situações nas quais o reflexo seria a primeira resposta.

Para que isso aconteça, há a participação das áreas corticais de associação e dos núcleos da base, estruturas neurais envolvidas mais diretamente na elaboração de uma estratégia motora. Os núcleos da base participam na aprendizagem e na realização dos movimentos voluntários e daqueles que exigem habilidade motora como, por exemplo, o caminhar. O movimento voluntário é caracterizado por ser aquele com alguma intencionalidade. Para que esse movimento aconteça na intensidade, altura e proporção correta é necessário um ajuste e determinada previsão deste.

Durante a aprendizagem de movimentos e mesmo em movimentos bem aprendidos, os núcleos da base exercem importante função relacionada à formulação do comportamento adaptativo. A elaboração dos aspectos táticos é responsabilidade mais direta do córtex motor e cerebelo. E a ativação de interneurônios e motoneurônios que participam tanto da geração quanto das correções dos movimentos, ou seja, a execução do plano motor, é responsabilidade fundamentalmente da medula espinal e de núcleos do tronco cerebral.

O cerebelo então, ajusta os movimentos a diferentes situações e é responsável pela automatização dos movimentos. O cerebelo repete modelos, e quanto mais modelos, mais recursos terá no momento em que precisar de uma ação. Regula também o ritmo, força, coordenação motora fina dos movimentos, a velocidade, a consistência e adequação dos processos mentais ou cognitivos, além de corrigir erros motores, e prevenir e detectar erros de pensamento. O cerebelo também faz sequenciamento de respostas ou contrações.

Todos os comportamentos motores regulados pelo cerebelo podem ser aprimorados por meio de treino. É o que acontece com os praticantes de esportes. Quanto mais treino, melhor a qualidade do movimento. A automatização ocorre então, quando há a clareza quanto ao movimento a ser realizado – o objetivo final. A partir daí é necessária muita repetição, erros e correções destes para que essa automatização se efetive e seja internalizada.

Na escola, o processo é o mesmo, com algumas ressalvas. A inserção e estimulação de movimentos na escola deve ser realizada de modo correto. A criança aprende ao observar o modo como o movimento é feito e a partir daí tenta realizá-lo. Se perceber que não consegue fazê-lo da mesma forma que seus pares ou adultos, se encarrega de buscar a posição, força e inclinação correta, dentre outros ajustes. O erro e a observação do que é esperado e do que deve ser atingido é parte do processo de aprendizagem.

Para então, que esse aprendizado aconteça é necessário um modelo real. Neste caso, o professor (a) pode realizar este movimento para que a criança tenha a oportunidade de observá-lo(a) e compreender o objetivo final. É este exemplo que guiará a criança à execução do movimento esperado, na velocidade, força e inclinação corretas. Deste modo, apesar da relevância e importância do reforço positivo movimentos errados não devem ser encorajados. A criança precisa perceber que não está realizando determinado movimento de modo correto para que possa tentar corrigi-lo, errando e compreendendo o que é esperado em cada situação, atingindo a automatização e correções automáticas posteriormente.

Autor: Juliana Spinasola de Carvalho Nuin RA: 201605126
Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo
Neurociência aplicada à educação – Turma 2

Referências bibliográficas
Baldo, M. V. C. . Fisiologia do Movimento Humano. 2004. Disponível em:
https://fundacionannavazquez.wordpress.com/2007/09/06/neuroanatomia-nucleos-de-base/

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