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“Neuromitos” na educação: uma preocupação mundial

Na semana passada, uma das revistas mais relevantes da neurociência mundial publicou uma revisão muito pertinente escrita pelo inglês Paul Howard-Jones onde as contribuições possíveis da neurociência na educação estão sendo analisadas de maneira bastante incisiva. Sua análise começa a partir de diferentes estudos feitos na China, Reino Unido, Turquia, Grécia e Holanda onde professores revelam crenças que podem ser chamadas de “neuromitos”. A primeira vez que este termo foi utilizado foi em na década de 1980 para tratar de conhecimentos superficiais que vinham sendo usados para dar sentido para discussões médicas. Hoje o termo é aplicado para toda aquele conhecimento ou interpretação de dados que pula etapas científicas na sua análise seja por descuido ou de propósito e que acaba contaminando a sociedade com ideias vazias e sem endosso.

Como a neurociência tem se tornado a ciência da moda, todo mundo quer dizer que seu método ou seu estudo é baseado em neurociência e muitos estão escrevendo livros e dando cursos e palestras sobre isso sem nunca ter se debruçado verdadeiramente sobre a aridez do conhecimento sobre o funcionamento cerebral. Conheço palestrantes que após um curso de 32h sobre Princípios de Neuroeducação dizem que são NEUROEDUCADORES. Morro de medo disso. Esta é uma das principais razões para eu ter reunido uma equipe muito comprometida para oferecer um curso de pós-graduação em “Neurociência Aplicada à Educação” na Santa Casa de São Paulo.

Mas voltando à vaca fria, com prevalências muito semelhantes nas tão distintas populações pesquisadas, os sete”neuromitos” citados por Howard-Jones são:

1) “Nós usamos somente 10% de nosso cérebro” – aproximadamente 50% dos entrevistados acreditam nisso.

2) “Indivíduos aprendem mais se recebem informações em seu estilo sensorial preferencial (cinestésico, visual ou auditivo)” – neste caso a crença atinge mais de 90% dos professores.

3) “Exercícios que envolvem movimentos coordenados desenvolvem conexões entre os dois hemisférios cerebrais” – entre 70 a 80% dos entrevistados acham que isso é verdade.

4) “Diferenças na dominância cerebral esquerda ou direita provocam comportamentos e atitudes diferentes nas pessoas” – entre 75 a 90%.

5) “Crianças são menos atentas depois de consumirem refrigerantes ou doces” – metade dos professores procuravam aconselhar a redução do consumo destas substâncias antes das aulas.

6)” Beber menos de 6 a 8 copos de água por dia pode levar o cérebro a um quadro de desidratação profunda que “murcharia” o orgão” – por volta de 20% (senti um certo alívio em ver que este número não era tão expressivo).

7) “Problemas de aprendizagem determinados por diferenças no desenvolvimento não podem ser contornados com processos educativos” – na China essa crença atingiu o espantoso número de 50%, ficando entre 15 e 20% em outras populações.

Me comprometo nos próximos posts discutir cada um desses “neuromitos” para esclarecê-los sobre o que se pode afirmar sobre estas ideias baseado em neurociência verdadeiramente. Como ciência, precisamos de dados e fatos. Quem me conhece, sabe que sempre coloco minhas ideias em minhas aulas e palestras. O cuidado é que precisamos deixar bem claro aquilo que já tem dados de pesquisa para apoiar e o que ainda carece de pesquisa e indagação mais profunda.

Como seriam os resultados se esta pesquisa fosse feita no Brasil?

Se você é professor, escreva para mim como é o seu conhecimento sobre os “neuromitos”. Você pode usar o campo de comentários do blog ou mandar um email para carla@institutoconectomus.com.br.

Referência do artigo:

https://www.nature.com/nrn/journal/vaop/ncurrent/pdf/nrn3817.pdf

Um grande abraço e até o próxima!

 

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