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Redes neurais em adolescentes de diferentes fenótipos impulsivos
Estou postando uma tradução de uma matéria que fala sobre um estudo feito em Vermount sobre redes neurais que são  menos ativadas em adolescentes impulsivos que usam álcool e drogas. O estudo feito com populações americanas e européias em uma amostra enorme de mais de 1600 sujeitos, sugere aos pesquisadores que as regiões do córtex orbitofrontais (processamento emocional – cognitivo) não parecem estar sendo efetivas no processamento do controle inibitório do indivíduo, provocando o uso de drogas em idade precoce. Neste mesmo estudo, comparou-se a atividade de redes neurais em cérebro de sujeitos com diagnóstico de TDAH e verificou-se que o tipo de rede com diferenças na ativação nestes sujeitos não era igual às daqueles caracterizados como usuários de substâncias psicoativas.
Foram estudados 346 adolescentes de 14 anos que nunca haviam experimentado álcool, nicotina ou drogas ilícitas, 775 que haviam experimentado álcool ou nicotina, 324 que haviam experimentado ambas e ainda 99 adolescentes que, além do álcool ou nicotina, também haviam experimentado pelo menos uma droga ilícita.
Além de mostrar que o controle inibitório fragilizado no indivíduo impulsivo pode ser localizado e manipulado para tornar-se mais efetivo na sua capacidade de combater estes comportamentos de risco, abre perspectivas para caracterizarmos tipos diferentes de impulsividade, apurando nossa capacidade de discernimento e avaliação destes adolescentes.
O texto jornalístico traduzido e a referência para o trabalho original (em inglês) encontram-se abaixo.
Um abraço e boa leitura!

Estudo encontra rede cerebral associada ao abuso de drogas por adolescentes.

 

(Traduzido de matéria que continha trechos do artigo original e citações de autores)

Porque alguns adolescentes começam a fumar ou experimentam drogas e outros não? No maior estudo de imagens cerebrais já conduzido – envolvendo 1.896 adolescentes de 14 anos – cientistas descobriram uma ativação de rede cerebrais até então desconhecidas que nos levam de encontro a uma resposta.

Robert Whelan e Hugh Garavan da Universidade de Vermont, em conjunto com um grupo de colegas de vários países, relataram que as diferenças nestas redes levam a uma forte evidência de que alguns adolescentes apresentam grandes probabilidades de utilizar drogas e álcool – simplesmente por seus cérebros trabalharem diferente, fazendo-os mais impulsivos.

Suas descobertas foram apresentadas no jornal “Nature Neuroscience”, publicado em 29 de abril de 2012. Esta descoberta ajuda a responder se alguns padrões cerebrais são a causa do abuso de drogas ou se são causados por ele. “A diferença nessas redes parecem preceder o uso de drogas,” diz Garavan, colega de Whelan do departamento de psiquiatria da UVM, que também foi o pesquisador principal do componente irlandês de um grande projeto de pesquisa europeu, chamado IMAGEN, que reuniu os dados sobre os adolescentes no estudo novo.

Em uma descoberta chave, a diminuição da atividade da rede envolvendo o cortex orbitofrontral está associada a experiências com álcool, cigarros e drogas ilegais no início da adolescência. “Estas redes não funcionam tão bem em algumas crianças quanto em outras”, diz Whelan, tornando-os mais impulsivos.

Diante de uma escolha sobre fumar ou beber, um adolescente de 14 anos com uma rede de impulso reguladora menos funcional será mais propensos a dizer: “sim, me dê, me dê, me dê !” Garavan diz, “enquanto outro garoto irá dizer, ‘não, eu não vou fazer isso’.

Testes para verificar menor função nesta e outras redes cerebrais poderiam, talvez, um dia ser promovidos por pesquisadores como “um fator de risco ou biomarcador para o uso de drogas em potencial”, diz Garavan. Os pesquisadores também puderam mostrar que as redes recém descobertas estão relacionadas à sintomas de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade. Essas redes de TDAH são diferentes de outras associadas ao uso de drogas por jovens.

Nos últimos anos, houve controvérsia e muita atenção da mídia sobre uma possível conexão entre o TDAH e abuso de drogas. Tanto o TDAH quanto o precoce uso de drogas estão associados ao baixo controle inibitório – problema que aflige as pessoas impulsivas. Mas a nova pesquisa mostra que esses problemas aparentemente relacionados são regulados por redes diferentes no cérebro, mesmo que os dois grupos de adolescentes possam apresentar poucos pontos em testes de “tempo de reação ao sinal de parada,” uma medida padrão de controle inibitório global utilizado neste estudo e outros similares. Isso reforça a idéia de que o risco de TDAH não é necessariamente um alto risco para o uso de drogas como alguns estudos recentes sugerem.

As redes de impulsividade – áreas conectadas por atividades cerebrais reveladas pelo aumento de fluxo sanguineo – começam a pintar um retrato mais cheio de nuances da neurobiologia subjacente à colcha de retalhos de atributos e comportamentos que os psicólogos chamam-impulsividade, bem como a capacidade de colocar freios sobre esses impulsos , um conjunto de competências às vezes chamado controle inibitório. Edythe London, professor de Estudos de Dependência e Diretor do Laboratório de Farmacologia Molecular da UCLA, que não participou do novo estudo, descreveu-o como “excelente”, observando que o trabalho por Whelan e outros “avança substancialmente nosso entendimento do circuito neural que rege o controle inibitório no cérebro do adolescente. “

Usando uma abordagem complexa matemática chamada análise fatorial, Whelan e seus colegas foram capazes de identificar sete redes envolvidas quando os impulsos foram inibidos com sucesso e seis redes envolvidas quando a inibição falhou – das vastas e caóticas ações de um cérebro adolescente trabalhando. Estas redes “acendem”, diz Whelan, em um scanner de ressonância magnética funcional durante os ensaios, quando os adolescentes foram convidados a executar uma tarefa repetitiva que envolveu apertar um botão em um teclado, mas depois foram capazes de parar com sucesso ou inibir o ato de apertar o botão no meio da ação. Os adolescentes com melhor controle inibitório foram capazes de obter sucesso nessa tarefa mais rápido.

Mas as redes que estão por trás dessas tarefas não poderiam ter sido detectáveis em um “estudo de ressonância magnética funcional típica de cerca de 16 ou 20 pessoas”, diz Whelan. “Esse estudo foi de ordem de magnitude maior, que nos permite superar grande parte da aleatoriedade e ruído e encontrar as regiões do cérebro que realmente variam em conjunto.” “A mensagem que se leva para casa é que a impulsividade pode ser decomposta, dividida em diferentes regiões do cérebro”, diz Garavan “, e o funcionamento de uma região está relacionada com sintomas de TDAH, enquanto o funcionamento de outras regiões está relacionada ao uso de drogas.”

O novo estudo baseia-se no trabalho multi-anual do Consórcio IMAGEN, financiado pela União Europeia, e liderado pelo professor Gunter Schumann, do Instituto de Psiquiatria,King´s College London. IMAGEN, liderado por uma equipe de cientistas na Europa, realizou análises de neuroimagem, genéticas e comportamentais em 2000 voluntários adolescentes na Irlanda, Inglaterra, França, Alemanha e irá segui-los durante vários anos, investigando as raízes de comportamentos de risco e saúde mental em adolescentes.

Que adolescentes testam limites e, por vezes, correm riscos é tão previsível como o nascer do sol. Isso acontece em todas as culturas e até mesmo em todas as espécies de mamíferos: a adolescência é um tempo de testar limites e desenvolver independência.
Mas a morte entre os adolescentes no mundo industrializado é em grande parte causados ​​por acidentes evitáveis ​​ou auto-infligida que muitas vezes são causados pela impulsividade e  comportamentos de risco, muitas vezes associados ao uso de álcool e drogas. Além disso, “a dependência no mundo ocidental é o nosso problema número um da saúde”, diz Garavan. “Pense sobre o álcool, cigarros ou drogas mais pesadas e todas as consequências que tem na sociedade para a saúde das pessoas.” Compreender redes cerebrais que colocam alguns adolescentes em maior risco de começar a usá-las poderia ter grandes implicações para a saúde pública.

Artigo original:

https://www.nature.com/neuro/journal/vaop/ncurrent/full/nn.3092.html

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